terça-feira, 23 de agosto de 2011

O salto para a vida - Célia Valente

Léa Mamber tinha vários documentos que apresentavam outros nomes para se referir a ela: Léa Bleiman, Laja Blajmann e Alicja Zofja Nuzsy. Ela era uma judia perseguida por nazistas. Sua mãe e sua irmã morreram. Ela nasceu em 25 de maio de 1918 em Glinyany. Cresceu em uma aldeia chamada Sadowa Wisznia. Durante a Primeira Guerra ela teve que se mudar para Viena porque Galícia estava sendo invadida por russos. Seu pai tinha sido rico, era dono de uma loja de tecidos. A única herança que Lazar tinha deixado era a casa, que deixou pra mãe de Léa. A Léa tinha cinco meio-irmãos : Rachel e Frederico (do primeiro casamento do pai) , Sarah , Sheiva e Estera (do segundo casamento do pai). Sheiva, uma vez, jogou cinzas no sholent (prato judeu) de Léa e da mãe com a intenção de envenená-las. Elka decidiu levar Léa para irem morar com Mindla Blau. Quando sua avó morreu, elas venderam a casa para irem morar em um lugar melhor. Um casamenteiro chegou a cidade e queria casar a mãe de Léa com um estranho. Naquele tempo as judias casadas ou viúvas usavam peruca. Tio, tia ,primos e as meias-irmãs do segundo casamento do seu pai foram executadas durante a guerra. Aos 21 anos de idade ela ficou noiva de um cara chamado Herman Sternlicht. Como seu noivo ficou com medo dos nazistas ele fugiu para a Rússia, onde disseram que ele tinha morrido. Quando os alemães chegaram na cidade em que Léa estava, reuniram 5 filhos de uma mesma família judia a mataram eles em praça pública e em seguida fuzilaram mais 19. A partir da chagada dos alemães o povo judeu teve que cumprir ordens como a de usar no braço direito uma faixa branca com a estrela-de-davi para identificação. Eles começaram a varrer ruas, costurar uniformes e até fabricar botas como trabalho forçado. Léa varreu as ruas por nove meses porque achou que estaria segura. Ela foi recrutada pela idade e pela aparência física. Ela ficava cada vez com mais medo pois se falava em extermínio de judeus. Em 12 de setembro de 1942 Léa saiu correndo para casa no meio do seu turno de varrer as ruas porque viu tropas inteiras da Schutzstaffel ( também chamado de SS era o grupo armado organizado de início como guarda pessoal de Hitler). Fugindo da situação ela e a mãe se esconderam em uma casinha na beira do rio onde conseguiram passar a noite até serem deduradas pelo ajudante do barbeiro, um polonês que as viu e puxou Elka pela roupa, com a filha agarrando o outro lado elas foram para em uma ponte onde os SS estavam com metralhadoras apontadas na direção delas. Elas foram presas. Na sinagoga Léa lembra ter visto praticamente todos os judeus da cidade com trouxas nas mãos. Da sinagoga, os judeus foram levados para um barracão onde um trem estava à espera para levá-los ao campo de concentração. Elka pediu que Léa pulasse do trem, e ela o fez, não queria abandonar a mãe , mas Elka insistiu, queria que a filha vivesse. Mas antes da filha pular ela disse que seu noivo estava vivo. Uma camponesa deu à Lèa uma certidão de nascimento de polonesa onde ele teve que se passar por Alicja. Ela pegou um trem pra Sadowa Wisznia sem pagar e o bilheteiro concordou. Antes de mudar de cidade ela passou na casa de uma amiga da mãe dela que estava guardando os pertences de Léa e de Elka. Estava escrito em todo o lugar que quem ajudasse um judeu ia ser enforcado ou fuzilado junto com ele. Ela ficou por um tempo na casa de Dudziakova onde conseguiu uma identidade falsa, mas teve que tingir o cabelo de loiro para parecer polonesa. Ela decidiu que iria trabalhar na Alemanha, quando foi para o recrutamento disseram que a foto da identidade, que era a única coisa verdadeira não se parecia com ela mesma. O rapaz que estava no balcão disse que ela não poderia ir pois tinha cara de judia. Ela teve que dar dinheiro para ele, para ela conseguir ir para a Alemanha em busca do seu trabalho. Ela passou o natal na casa de Dudziakova, mas não pode jantar direito pois os nazistas fariam uma busca então ela teve que se esconder de baixo de uma árvore do lado de fora da casa. Ela foi em busca dos tecidos que tinha deixado na casa de uma amiga em outra cidade, mas pernoitou na casa de um senhor. Os netos dele brincavam de carrinho com a Torá. Um guarda foi até a casa desse senhor para ver os documentos de Léa, mas como isso tinha acontecido duas vezes e ela teve sorte, arriscou essa vez também. Quando percebeu, se viu em um trem onde viajou 3 dias e 3 noites para a Alemanha. Ela foi escolhida por um casal para ser empregada. Como ela não sabia ordenhar a vaca e nem fazer crochê ela foi enviada a outra família, uma família que precisava de alguém que cuidasse dos filhos do casal. A cada dia ela tinha uma tarefa para fazer. No momento ela estava cuidando da roupa e dos filhos do casal os gêmeos Werner e Dorchen e a pequenina Ingele. Léa trabalhava com Edward e Marenka que eram dois empregados. Léa até seria madrinha de batismo do filho do Edward. Ela não ganhava muito mas conseguia economizar e inclusive mandar dinheiro para seu primo Dunio que trabalhava em uma fabrica de aço sem ganhar nada. A folga dela era nos Domingos de tarde. Quando Anemari fez 12 anos ganhou 500 marcos de presente e tinha perdido, era muito dinheiro, Léa com medo de ser acusada de ladra procurou, e ao limpar a gaveta da menina ela achou e nota e se livrou do que poderia ser um problema. Quando ela ajudou Gunter com o seu trabalho da escola, ela começou a ser tratada de modo diferente. Quando o Ministério do trabalho foi atrás de trabalhadores, Clara deixou levarem os outros empregados menos Léa. Quando ela teve cachumba, Clara deixou ela repousar, mas em seguida, Léa teve panarício na unha do pé, que foi tratado pela Clara. Omama era muito desconfiada, achava que Léa era judia, e enchia a empregada de perguntas. Omama fez Léa se confessar, mesmo sendo judia. O padre a fez comungar. Ela pôs a hóstia na boca e cuspiu em um lenço em seguida. Seu patrão perguntou ao padre o que ela tinha confessado. Quando um grupo de soldados chegaram para libertar os judeus. Cançada de guardar segredo, Léa contou que era judia. O general que veio falar com ela disse para ela ir embora. Ela foi. Abandonou a família para que trabalhava e foi. Sua família inteira havia sido aniquilada. Ela conheceu um judeu que contrabandeava cigarros da Romênia. Ela o conheceu logo após de ele perder a mulher e o filho. Léa trabalhou um tempo vendendo cigarros. Natan contou que para sobreviver teve que se esconder no esgoto por um tempo. Para passar pelas barreiras ele teve que se esconder embaixo dos corpos dos judeus mortos. Depois ele se escondeu no sítio de um ucraniano. Nessa época, Léa morava com um casal de judeus. Um dia, um policial recolheu os cigarros dela pois disse que era contrabando. Natan a consolou e depois de um tempo, ele a propôs em casamento e ela aceitou. Eles ficaram um tempo na Polônia, na Tchecoslováquia, em Paris. Léa foi atrás de seu irmão Frederico que morava em São Paulo. Pouco depois ele respondeu a carta que ela tinha mandado. Recomendaram que Léa e o marido aprendessem o português. Léa aprendeu e só veio a falar quando veio morar no Brasil. À bordo de um navio chamado "formoso" Léa enjoava muito porque estava grávida de sua primeira filha. Eles chegaram no Brasil no dia 23 de fevereiro de 1947. Eles desembarcaram em Santos e seu irmão já estava lá com Sarita, esperando por Léa. Seu irmão deixou claro que não queria que ela ficasse na casa dele por muito tempo. Então, Léa veio para Curitiba, onde mora a sua irmã Rachel. Sua irmã chorou quando os recebeu em sua casa. Léa ganhou muitos presentes para sua filha e no dia 30 de maio de 1947 ela nasceu. Natan trabalhava com o cunhado enlatando mel. Natan, o cunhado e um amigo, fecharam negócio em Santa Catarina. Eles tinham uma loja em Mafra, uma loja que tinha de tudo. Ambos tinham pesadelos quando lembravam dos nazistas. Natan gostava de comer sementes de girassol quando ia ao cinema. O que dava mais lucro em sua loja era arame farpado. Léa tinha medo da sexta-feira santa. Ela tinha medo de ser culpada pela morte de Jesus. Rachel morreu de câncer no pâncreas. No dia 1 de junho de 1949 nasceu Miriam, a segunda filha de Léa. Durante a gravidez de seu terceiro bebê ela teve câncer. Sérgio, seu terceiro filho nasceu em 1952. Ela morou em Mafra por onze anos. Quando Sérgio fez 7 anos eles se mudaram pra Curitiba. Léa falava em ídiche com os seus filhos, mas eles sempre respondiam em português. Aos 59 anos, Natan morreu de câncer. Depois que o marido morreu ela se deprimiu mas depois de um tempo começou a trabalhar igual ao marido. Ia até Mafra na segunda e voltava na sexta. Alice foi assassinada. Em 1969 ela foi a Israel, onde Miriam passou um ano estudando. Alguns anos depois ela voltou para Polônia para rever Dudziakova. Léa morreu de câncer em 1993 em Curitiba. Teve três filhos e dez netos.


PERSONAGENS:

Léa Mamber: judia polonesa, a personagem principal. Falava em alemão, ídiche e polonês. Escrevia em ucraniano.
Lazar Bleiman: pai de Léa, que morreu de tuberculose quando a menina ainda tinha dois anos de idade.
Elka Blau: mãe de Léa e terceira mulher de Lazar
Sheiva: meia-irmã de Léa, tinha problemas mentais.
Mindla Blau: avó materna de Léa.
Kister: inquilino que criava pombos no telhado para vender os ovos.
Hanna Blau: tia de Léa. Era casada e muito religiosa.
Gluszkiewicz: nome do diretor da escola que Léa estudava.
Herman Sternlicht: noivo de Léa era guarda-livros, judeu de origem russa.
Jacob Sternlicht: irmão do Herman, trabalhava no exército polonês.
Dudziakova: mulher que ajudou a Léa a arrajar documentos falsos e a deixou ficar no depósito de comida da sua casa.
Joseph Hamprecht: patrão de Léa. Casado com Clara e tem 5 filhos.
Werner e Dorchen: os gemeos de 8 anos filhos de Clara e Joseph Hamprecht
Ingele: a menininha de 6 meses filha de Clara e Joseph Hamprecht
Dunio: primo que trabalha em uma fábrica de aço
Anemari: filha de Clara e Joseph Hamprecht
Omama: avó dos 5 filhos de Clara
Gunter: o filho mais velho de Clara, ele tem 15 anos.
Franz: primo da Omama
Natan: marido e pai dos 3 filhos de Léa
Luschia: irmã de Natan
Liberman: homem que oficializou o casamento de Léa com Natan.
Sarita: filha da irmã de Léa
Helena: outra filha da irmã de Léa.
Moisés Paciornik: marido de Helena. Ele era ginecologista.
Suzana: primeira filha de Léa
Miriam: segunda filha de Léa
Sérgio: terceiro filho de Léa
Alice: mulher que cuidava da loja enquanto Léa estava fora

*narrador-personagem, história contada na 1ªpessoa do singular pela Léa.